OUÇA...

Ouça...o vento conta causos de suas andanças

ouça...esse murmúrio feliz é o canto das crianças

ouça...são os muros indo ao chão

ouça...são as marionetes dançando no salão...

Ouça...custe o que custar não se dê às sereias

ouça...é a bandeira de um país distante tremulando

ouça...são os analfabetos se debatendo na teia

ouça...são as leis e os corruptos se enroscando...

Ouça tudo o que puder e um pouco mais

não deixe um pio de coruja sumir vida adentro

a rebentação chega e não avisaram os barcos no cais

essas batidas insanas são as mesmas de outro tempo...

Ouça...a natureza ruge sua fúria e envia as tormentas

ouça...o bebê que chora mora na casa do abandono

ouça...rompe-se o cristal do silêncio que vive na placenta

ouça...a música nos chega por aquele violino sem dono...

Ouça...paz e juízo não se falam e mal trocam palavras

ouça...é o riso dos gerânios afagando velhas margaridas

ouça...cai o busto do ditador e a emoção quase nos engasga

ouça...é o barulho da gaze limpando velhas feridas...

Ouça tudo o que puder e mais um pouco

ofereça café com pão e broas de alegria

chame os sábios os quase e os loucos

dê ao povo o sal doce da poesia...