TARDE
Chegou calmamente
Trazendo uma friagem
No riso estridente
Uma presença passagem
Ligando o nada ao tudo
Seguindo o rumo findado
Hoje parece finito
Na hora de hoje marcada
Se pensa que pensa algo
Que hoje supunha real
Compreende ao cair da tarde
Que sempre é instável.
Olhando a porta que se abre
Ou vendo o céu que se fecha
Chegando a hora que passa
O dia termina inquieto
Possibilita o pensamento passar
Ligar o presente sem ser
No caso finito do ar respirável
Para o intuito de viver
Conta no ser sem estar
Pressupõe que passou
Sem ter passado
Cantando a tarde que vai
Observando o dia que chega
Quem vê não pensa que é
Supõe não conhecer
A tarde que vai devagar.
E se pudesse reter o olhar
Naquele minuto traçável
Segurar o ponteiro do tempo
Seria ato louvável.
No calar da voz que falta
Silencia o dia que cede
No coração que bate apertado
Partindo no tempo que antecede.