FICAR DE PÉ
Nunca mais eu vou ofender um negro ou um branco,
nem o que corre depressa e nem o lento manco,
nem o que está na sarjeta
e nem aquele que está com o dedo na espoleta,
não me referirei ao diferente
como fosse um tipo de gente
desassociado, que saiu da gaveta
de um Deus Criador que gosta de recriar
o que parece comum mas que é invulgar,
prometo respeitar a vaga do idoso
mesmo que eu seja um pouco rigoroso
quanto às leis que se aplicam a qualquer custo,
farei um mea culpa quando vagar sob a chuva
de um país repleto de percevejos e pulgas
que sugam o sangue do povo sem sentir culpa,
ficarei sentado vendo a procissão passar
rumo ao abismo, rumo ao fundo do mar...
Ficarei parado na beira do rio que corre,
onde alguns pescam, outros nadam,
muitos jogam lixo e outros tantos morrem,
esperarei a carruagem de cem cavalos
que voa sob o chicote de um hierofante,
saiba você que terei aprendido, num estalo,
o quanto somos pequenos, o quanto somos gigantes,
o quanto é necessário para aprender a ser o que se é,
nascer em uma bolsa, envolto em placenta,
e depois ficar de pé...