APRENDIZAGEM

Desde setembro ando tendo

aulas de mandarim,

não porque queira sair lendo

ou qualquer coisa afim,

mas para visitar as Muralhas da China

e entender o que faz um uma nação

erguer pedra sobre pedra

e iniciar uma revolução

e depois espalhar seu povo

pelo mundo como canibais pelo chão...

Em março comecei aulas de conversação em inglês

para visitar o Bronks e a cultura negra de lá,

ouvir um jazz nos clubes e beber Bourbon,

ver os policiais brancos que matam por matar,

reconhecer nos olhos da Estátua da Liberdade

a mentira e a mínima verdade no mesmo tom,

de um país que ergue seus altos muros

nos aeroportos cheios de terroristas

que atiram às claras nos escuros

só para ouvir da morte o som...

Desde agora converso com o silêncio

que se veste às vezes de preto,

às vezes de branco,

ouço dele o murmúrio com as cores,

seus sussurros com as diferenças,

seu riso com a igualdade,

aprendo mais com ele

do que com qualquer discurso,

quando ele e eu,

absortos, vemos e ouvimos o mundo,

quando não estamos mudos...