PERPÉTUA POESIA

Um bolso vazio não sente o frio da moeda,

nem a alma deste homem percebe o pavor

que há no corpo que se atira em queda

por não ter conhecido o amor...

Um copo sem água não sabe da sede

de quem não pode conhecer de perto o mar

e nunca viu um profeta lhe dizer: vede!,

é este um coração seco, de quem não soube amar...

Um coração sem esperança é de um bater morno

que mal se escuta nas noites frias de inverno,

sem saber que foi feito na noite em que o torno

o esculpiu para existir sem gravata ou terno...

Um homem metade homem e metade coisa qualquer

não saberá, nunca, o que há em si de mais valia,

não reconhecerá em si a parte mãe, doce mulher,

a parte pai, que escreveu em sua carne a perpétua poesia...