Jejum
E então inicio o meu jejum.
Deixo pra traz o que alimenta
toda ilusão e toda energia;
é tormenta.
Vou alimentar-me de mim
até que haja nada e nenhum.
Se os opostos se atraem,
sou camaleônico.
Espelho? Do mundo.
Desse impulso imundo
que inda me inunda,
mas eu repulso.
Repulsivo, serei repelente.
Os vermes de fora, insetos incertos,
deixarei que morram, como os de dentro.
De fome, de desespero, de silêncio,
numa cetose sagrada, estruturada,
regrada a lágrimas e a doses d'água.
O momento é de faltura.
Falta resposta, falta dinheiro, falta amargura.
Amargura nova, das que salienta, não tem.
Só a pequena dose, aquela dose velha
mas não quero você na minha nova dieta.
Preparo um ritual preguiçoso em mim.
Um trato, um pacto, um palco.
Meu corpo é prato dos meus deslizes.
Ingrato,devorarei meus restos,
curando minhas cicatrizes.
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Hygor L.B. Marques