SINFONIA MORTAL

A morte finge que não me vê,

mas me espia.

Já a vi me espiando a lavar a pia,

não a de água benta,

mas a de gordura que cria

essa porosidade corpórea

que me cansa, a serviço dela,

que me levará, um dia,

a voar por sua janela...

Eu, que finjo ainda melhor que ela,

depois de esfregar a panela,

vejo que ela está atrás de mim,

ora dizendo não, ora dizendo sim...

Como bons amigos juntos seguimos,

bebemos e conversamos,

rimos e choramos todos os dias,

ela, a maestrina que rege meu hino,

eu, o instrumentista chegando ao fim desta sinfonia...