SÚBITO ENTENDIMENTO
Se ao menos soubéssemos
o que o nada sabe sobre o que procuramos
ao menos saberíamos onde estamos
com quem viajamos
pelo espaço celeste
se estamos na plenitude da nau
ou a nau está repleta de pestes
que nos caísse nas mãos
um mapa da infinita solidão
dos astros confinados às suas órbitas
que corroborassem filosofias inóspitas
que encetamos nos palcos das ilusões
se ao menos um axioma determinasse
que todos viverão um dia
os que morrem os que nascem
os que sabem ou não da poesia
que nos chegasse à compreensão
papiro de astronautas antigos
que escreveram nas costas das constelações
hai-kais de tez de fogo e súbito entendimento
nas nossas mãos lessem destinos e colisões
e se ao menos ouvíssemos os anjos e suas trombetas
ou a orquestra de cem mil capetas
só assim saberíamos onde estamos
para onde vamos
o que somos
o que seremos
duradouros que não
pois duramos a instantânea vida
de cada coração...