HOJE EM DIA

Hoje em dia

é difícil ver uma poesia

escrita num papel de pão...

Jogada junto com o trago

papel meio rasgado

largado sobre o balcão...

Hoje em dia

é raro ver um poeta na via

transitando seus versos...

Mais é pensá-lo em sua escrivaninha

tecendo mel como abelha rainha

mergulhado imerso...

Hoje em dia poetas nascem e morrem

como insetos que voam e correm

em direção à luz...

Vivem o tempo suficiente

para serem tratados como dementes

que merecem a solitária cruz...

Hoje em dia a poesia é só um rabisco

em dia de chuva um corisco

que rasga a pele do céu...

Transpassa a carne da nuvem branca

quando do alto se lança

como flecha ao léu...

Hoje em dia ninguém pleiteia a escritura

do grafite que dança sobre a ossatura

do papel em branco...

Mais fácil é assinar documento grifado

num departamento todo trancafiado

de uma sala de banco...

Hoje em dia a poesia no alto dorme

mas não do pódio e nem da cabeça do homem

e sim no vazio do silêncio ancho...