Dureza
Sou dura!
Dura como a vida me fez,
Uma desestrutura.
Dura como a minha pele.
Senti na pele a clausura
Do abandono, do desespero.
Do medo que aprisiona a alma inocente
E, entre grades, a candura.
Deste escuro abismo, qual a altura?
Sou dura!
Dura pela jornada.
Resultado da semeadura, sem brandura.
Dura como a rocha inteira, junção de areias.
A agrura
Do espelho interno,
Do retrovisor revelando o reverso da minha mente.
Enganosa envergadura.
Deste vulcão, falsamente adormecido, qual a temperatura?
Sou dura!
Mais dura que o diamante,
Porém, sem o esplendor do brilhante.
Uso a armadura
Tranquei sete fechaduras.
Dura como concreto abstrato,
Em rachadura
E tudo perdura
Me ata, atadura.
Meus ferimentos sutura
No céu noturno onde estão as estrelas
Desta longa noite escura?
Onde encontrar a abertura, uma abreviatura,
A cura?
Dê-me asas por que preciso voar.