Carta De Um Mineiro

Que dor imensurável penetra em meu peito

Parece que meu corpo está com defeito

Minhas mãos calejadas pelo trabalho o dia inteiro

Hoje me vejo frágil que não aguento meu próprio peso

Estou me tornando mais amigo do tempo

Ele me contou que a dor que sinto é apenas no momento,

Que logo, logo, estarei bem, e continuarei vivendo

Mas pobre de minha visão, sem meus óculos perco-me na escuridão

Os anos em meus ombros estão pesando

Como o ditado logo diz, " a idade acaba nos alcançando"

Agora é bem mais fácil, pois caminho cambaleando

Meus joelhos hoje estão doendo,

Mas ontem eu podia jurar que estava correndo.

Sinto meus ossos colidindo entre si, gritando

Me implorando um alívio, estão se enferrujando

As dores estão se consolidando, e lentamente me matando

Mal consigo me levantar da cadeira de balanço

Com um andado hoje desequilibrado,

Move-se o corpo desgastado pelo tempo,

Que logo será descartado, e ao solo será plantado

E de lá brotará uma linda e vivida flor,

Assim como eu fui um dia, forte, vivo, sem medo algum

Mas como sempre foi, o tempo me alcançou,

E me tornou frágil, com medo de sair do meu pequeno iglu

Mas permanece em minha mente os momentos mágicos,

Que serão sepultados juntamente a esse velhinho simpático

Partirei um pouco mais sábio.

Entristeço por meus pés nunca terem sentido as areias da praia

Minha pele nunca sentiu aquelas águas

Pudera eu ter vivido uma vida agitada,

Como dos jovens que viajam na Páscoa

Mas não me irei triste, pois o que vivi me trouxe o que de melhor existe

Infelizmente não verei os meninos de meus meninos, adultos

Porém, nos braços de meus rapazes poderei em fim repousar

E sei que eles iram me abraçar, e não há nada mais que eu possa desejar

Saberei que deixei este mundo com aquele calor,

E mesmo que eles se ponham a chorar, saberei que são lágrimas de amor

Só posso pedir a Deus que, quando eu me for, que tome conta de meus garotos, por favor.

Estou a caminho de me encontrar com a minha querida esposa,

Que conheceu o paraíso antes, e que por mim agora olha

E logo não verei mais na janela aquelas pipas, e as risadas da rua

Algumas vezes sinto que a vida é muito curta

Mas pelo menos lá no céu, minhas alianças estarão novamente juntas.