A jovem Moribunda
A jovem moribunda queria mas não podia mais andar:
Em sua cadeira de rodas, era triste e materno o seu olhar.
Quando ela sorria, o mundo fazia sentido e era ainda florido,
Mas seu lindo riso era só miragens de prantos desfalecidos.
A jovem moribunda não conseguia mais comer e enxergar:
Eram gritos e remédios, e muitas almas atribuladas a orar.
Deus nos enviava um anjo cheio de promessas e de lendas,
E em nossos corações vê-la curada ainda era uma senda.
A jovem moribunda tinha dois lindos pássaros já fora do ninho_
Um casal de colibris cujo jovem pai já alçara o último voo sozinho.
Aonde estava a alegria de viver daquela pobre e jovem moribunda?
A vida é como um navio que, a qualquer instante, parte-se e afunda.
Várias vezes a jovem moribunda não reconhecia mais nada:
Nem a casa, a família, tampouco a própria vida atormentada.
Mas ela ainda sorri e gosta de brincar com seus sonhos na cama:
Eu caio em lágrimas ao sentir em seus olhos o quanto ela nos ama!
Certo dia de sexta-feira, a doença da jovem moribunda piorou,
Tantas preces e sacrifícios, mas infelizmente a morte a levou.
Dizem que ela está no céu, no paraíso, em paz, não sei na verdade _
Sei que nenhum credo ou dogma trará minha irmã nesta antiga tarde.
Ainda vejo o caixão sendo depositado no jazigo da família enlutada:
Toda uma vida de sonhos, de lutas, de conquistas e amor enterrada!
Toda uma vida e a verdade de tudo será o pó e o esquecimento?
A cicatriz da jovem moribunda deixou-nos um vazio e um renascimento.
Gosto de imaginar que a jovem moribunda jamais abandonou o nosso lar,
Ela ainda acorda, trabalha, abraça os filhos e a família em algum lugar.
Pode ser delírio, infantilidade, fé, saudade, nunca sabemos de nada.
Só sonho e vejo a jovem moribunda feliz, a luzir nas noites eclipsadas.
Acaraú, 03 de Junho de 2017