LAVRADORES DE VERSOS

Um dia, quando o sol descansava e a chuva trabalhava,

um ser celeste que não havia conhecido a peste

lançou as bases de um edifício alto e sem forma

sobre as águas que solicitavam a seus peixes

que brilhassem suas escamas acima e abaixo do céu;

e assim, do imponderável, veio a visão de mutação infinita,

à porta do mesmo um homem alto se curvava e recebia os convidados...

Poderia se dizer que foi um dia de felicidade sem demora,

muito antes, muito embora seja desconhecido o destino

de quem havia criado o alto prédio com a promessa

da morte definitiva do tédio...

Conta-se na terra dos homens escuros e dos homens claros

que foi o nascimento mais comemorado de todo o cosmos inventado;

havia algo de inumano naquela criação, uma gema de brilho raro

brilhava na constelação do espaço em que havia sido depositado...

Em toda a terra frágeis seres se insurgiam contra a ignorância,

pequenos e miúdos inventavam sonhos e outros muitos mundos,

nem a ciência poderia habitar a órbita onde, em primeira instância,

só os desprovidos de escudos e elmos e de um sentimento profundo...

Nascera a poesia, nome dado por aquele que nunca se viu,

arte de fazer despertencer e ressignificar os muitos significados,

destruir e recompor os nervos da palavra de onde surgiu

a concreta ação do caos, o nascimento do primeiro ato criado...

Hoje, onde homens andam sobre a terra na prática da destruição,

vive a poesia à sombra dos olmos plantados por lavradores de versos,

nasce e renasce dentro e fora do fogo que brota de cada coração

onde estamos todos, felizes e em súbita tristeza, imersos...