NA PISCINA DO PENSAMENTO
Um dia alguém me disse,
a poesia é uma corda entre a terra e o céu,
ou você sobe e alcança o pátio das crianças que não nasceram
ou você desce e ouve a prece de quem vive ao léu,
dando a mão ao falso anjo, ao Diabo,
bebe uma minúscula taça de fel,
ou um conhaque dos "brabo"...
A poesia é um punhal afiado
no seu coração de sangue, cravado,
da sua boca sairão os versos que estavam imersos
na piscina do pensamento,
as asas cheias de arame voarão no vento
feito pelas mãos dos magos que sobrevoam o céu,
anda, dirão, coma pelos olhos a poesia
que descortinará a ti o véu,
e você, grato pela vida recebida,
que os de cima chamam de humana vida,
se refestelará no sofá com o controle na mão,
descontraidamente ligará a televisão,
sairá da boca da máquina as profecias que você não esperava,
os produtos à sua espera nas prateleiras do supermercado,
os querubins de sangue azul estarão jogando cartas,
teu destino num baralho confessadamente marcado...
Dirão, as palavras que se ajuntam para a beleza do conluio feliz,
que há flores que nascem para a beleza sem propósito,
outras que só servem ao adendo da face, o nariz,
que há palavras que gostam de viver no depósito,
outras que se regalam com a brisa macia do vento,
algumas podem, em casos comuns, chegar à óbito,
outras, submersas, para sempre na piscina do pensamento...