NÃO ME ESCONDA NADA

Conte-me como foi que fez

para reatar as conversas com as nuvens molhadas,

conte-me tudo, não me esconda nada,

como faz para conversar com a rês,

sussurrar às estrelas nas frias madrugadas,

sobre o que consigo mesmo há de fazer,

diga-me tudo, não esconda uma palavra...

Viver sem conversar com as coisas ao redor

é como entrar numa cabine sem ventilação;

melhor é recitar Shakespeare, salteado e de cor,

repor as coordenadas que religa o coração...

Eu, tu, eles, nós, vós, eles,

sabemos que vivemos em estado de sapê,

como fôssemos o chão entre quatro paredes,

vaga-lumes relampejantes sem saber bem o por que...

Ah...mas por acaso o acaso acasala o tempo

com as dimensões inimagináveis das camadas de vento,

duzentos e oitenta bilhões de galáxias, num bailado celeste,

esperando que entendamos que somos só uma minúscula espécie...

Conte-me como faz para ser jovem, quase um rapaz,

uma menina que não envelhece, o riso sempre da mesma cor,

como faz para usar seus poderes e se tornar capaz

de falar, usar, domesticar e praticar amor...