ARENGA INFINITA

Um dia, quando estava tudo escuro,

Deus pulou, da mansão do Diabo,

e acendeu a lâmpada, o muro,

tudo ficou repentinamente claro...

E viu homenzinhos apalpando polpas

de flores e frutos no pomar alheio,

velhinhos sem dentes tomando sopa

nos restaurantes de um real e meio...

E pensou e disse: fui eu quem fez isso?!?

Ou foi o Diabo que mudou a configuração

do computador do céu e esse enguiço

deu-se pelos seus capangas aqui no chão?

E revogou os decretos de paz à humanidade,

de beleza e multiplicação dos peixes e do vinho,

mandou ao mundo alguns, dizendo: a bem da verdade...,

mas entendeu que não falava a todos e falava sozinho...

E o Diabo, rindo até não poder mais,

espalhou cargos e comutou sentenças,

só não atingiu as plantas e os animais,

menos as crianças e suas doces presenças...

E nessa arenga que parece infinitamente infinita,

onde cada um ganha um pouco e perde uma porção,

os que aqui vivem vão vivendo suas finitas vidas

carregando nas mentes o que lhes vai no coração...

E quem escreve poesia sobre esses tais fatos,

sejam visionários, pintores, variados escrevinhadores,

sabem que a mão direita que descreve o retrato

não vê que a esquerda é quem descreve as dores...