O ESTADO FEBRIL
Nos dias quentes,
eu posso diluir-me no espaço,
ser anjo desidratado.
Nos dias sudorentos,
eu posso afogar-me em água doce
tal qual um cágado senil.
Nos dias escaldantes,
eu talvez me transforme
em pasta explosiva,
uma substância ígnea qualquer.
Ah, agora faz muito frio,
e devo elaborar outro balanço climático.
Modificar minha gélida ligação com as pessoas.
Conservar os atos realmente objetivos
e estrumar flores
sem entender o que são flores.
Tenho sintomas febris de muitas vidas,
e uma dor em meu peito.
Acredito ser o tumor
da gélida lâmina,
do câncer cortante abaixo de zero.
Do livro: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"