O ESTADO FEBRIL

Nos dias quentes,

eu posso diluir-me no espaço,

ser anjo desidratado.

Nos dias sudorentos,

eu posso afogar-me em água doce

tal qual um cágado senil.

Nos dias escaldantes,

eu talvez me transforme

em pasta explosiva,

uma substância ígnea qualquer.

Ah, agora faz muito frio,

e devo elaborar outro balanço climático.

Modificar minha gélida ligação com as pessoas.

Conservar os atos realmente objetivos

e estrumar flores

sem entender o que são flores.

Tenho sintomas febris de muitas vidas,

e uma dor em meu peito.

Acredito ser o tumor

da gélida lâmina,

do câncer cortante abaixo de zero.

Do livro: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 12/05/2017
Reeditado em 12/05/2017
Código do texto: T5996691
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