IGUALDADE
Meu braço esquerdo não tem inveja do direito,
que escreve, afaga, acena, apenas fica penso,
sobe à altura da área nobre do peito
quando o hino toca, solene, denso...
Meu olho direito do esquerdo não tem inveja,
se a pálpebra o cobre, continuo vendo,
a força do olhar é como a bala que alveja
o alvo num clube de tiro, e, como ia dizendo,
minha perna que se adianta não ri da que virá,
ambas se sabem donas dos passos que darei,
quando uma chega sabe que a outra chegará,
ambas se afinarão como compasso que fecharei...
O ódio não é maior que o meu amor,
meu amor é maior que o ódio que não sinto,
que não possuo porque creio que a cor
de todas as coisas com meu olhar pinto...
Minhas mentiras são iguais às minhas verdades,
uma apaga a outra, opostas, se anulam quando a razão
vence o tempo trazendo ao real a verdadeira idade
do aprendizado que necessita todo e qualquer coração...