A MARCA DO AMOR
Até hoje nenhum cachorro aceitou ser meu dono.
Deve ser porque minhas palavras mordem,
não aceitam o osso da vida,
buscam o filé...
. . .
Aceitar todos os livros como definitivos
impede que você escreva o seu;
há sempre um caminho entre os caminhos
a ser percorrido, e lá está seu nome marcado,
a estrada única, a da consciência, onde,
no letreiro da realização,
seu nome estará escrito...
. . .
Um dia, minha boca que só falava,
aprendeu que podia beijar. E beijou.
A inocência adquiriu pelos,
a nudez adquiriu contornos,
o pecado adquiriu forma,
o sexo adquiriu filhos.
E surgiu Judas,
o beijo de cinema,
sem fonemas.
Mas o beijo mais importante foi o da minha mãe,
quando saí de casa e ela me deu ao mundo;
ficou, indelével, em meu rosto, a marca do amor...
. . .
Hoje, tendo comido o pão da tristeza e o doce da alegria,
acordo sem medo de me achar e me perder,
renasço como um rio que nunca para de correr
e descubro que o para sempre é todo dia...