CANOAS, MARÉS...

Tudo o que temos é o sol que nos dá,

a cor pra respirar, o calor pra congelar os bens materiais,

a ebulição da pele na hora do cafuné,

a quentura do pé no pé,

o sol não escolhe quais dos filhotes,

nos dá o ouro, no olhar, no pote...

Tudo o que tenho são duas mãos

que se enlaçam quando te tenho entre os braços,

tudo o que sou é só um compasso

descrevendo as curvas do coração...

Tudo ao redor é o mundo que se torna meu

quando todos os outros compartilham,

é como se lembrar de um livro que se leu

quando ainda éramos só pequenas ilhas...

Todo o desconhecido se apresenta de manhã,

bom dia, como vai?, vou bem, e você?,

mesmo as feridas, as marcas, a sensação sã

perpassa e nos dá o que é preciso pra viver...

O léxico apresentado se apaga e pode ser reescrito,

sentir é melhor que pensar que é melhor do que sentir,

e assim, sem manchas ou rubores legados por livros malditos,

somos canoas no mar imenso, juntos, mas marés, a ir e vir...