INFINITO CORAÇÃO

Um dia – quando a cidade estiver vazia – depois da guerra

a gente vai ao supermercado e pega o que quiser

hoje ainda não dá – vivemos uma era nada sincera

somos os que fogem da polícia - que mata quando quer...

Um dia – quando formos sócios do silêncio que domina

e as palavras estiverem dormindo nos livros das bibliotecas frias

escreveremos nossos poemas sobre montanhas de cinzas

para os cegos do futuro lerem o quanto tornaram

nossas vidas vazias...

Olhe pela janela e veja o filme real de nossas vidas

amor e compaixão são palavras ali na calçada – caídas

o homem aprendeu depressa a olhar para o outro lado

para não ver o perdão morrer em nome dos seus pecados...

Um dia – quando as luas que dominam o espaço se juntarem em uma

e o ofegante mensageiro disser que enfim o mundo vai mudar

não haverá sentido em amordaçar e nem algemar a turba

a gênese estará completa e haverá – enfim – um só luar...

Um dia – quando a música tocada vier do instrumento libertado

o homem cantará seu salmo sem a vingança eterna de Salomão

e acampará ao redor das ruínas de um deus crucificado

e sua pequena vida pulsará com o infinito do seu coração...