Coração combalido

Chego ao trabalho e tome história de assalto

Alguém estava no ônibus quando teve um arrastão

Do mais atento aos incautos

Sobra o esconder ou entregar como questão

Fiquei sabendo de outro que limpou um prédio

Um colega conta que no bairro teve outro “entrega o celular”

Na farmácia passa a carteira - que remédio

No shopping um assalto espetacular

Tem o sequestro relâmpago

E também o simulado

Atenção no estacionamento do banco

Vivemos como presas: olhando para os lados

No jornal a história da bala perdida

No trânsito acabou a discussão da razão

Finalizando o que já era um arremedo de vida

A última palavra foi de quem tinha um “tresoitão”.

A abordagem no portão quando chegamos em casa

Damos graças a Deus quando não nos levam junto

Gritam PULA FORA! VAI! VAZA!

Ufa! Desta vez não viramos defunto.

Cuida no ponto do ônibus que um moto-boy não apareça

Com uma encomenda que você não necessita

Garupa com voz de assalto coronhada na cabeça

Pagamos vigilantes, pois a violência é gratuita

No afã de ensinar ao filho segurança

Incutimos nele o viver com medo

Incentivamos de um lado “Não deixe de ter esperança”

Mas recomendamos: Preste atenção no caminho; volte cedo

Seremos como um viciado querendo não ser reincidente

Onde a continuação do “Só por hoje” é “não fui roubado”

Ou uma empresa na gestão de acidentes

Onde o estou “X” dias é “sem ser assaltado”

Privatização do que dá lucro “vendada” à prazo

Às vezes penso “deve ser coisa do demônio”

Discurso mentiroso, argumento raso

Falcatrua à vista com nosso patrimônio

E vejo no congresso inúmeros conchavos

Com hipócritas cheios de peçonha

Destilam leis para nos tornar escravos

Será que ninguém consegue deter esta vergonha?

Pelo rádio escuto que foi aprovado o pau mandado

Na justiça uma tremenda promiscuidade

No governo, nos é imposto o projeto derrotado

Meu Deus me diga que não é realidade

Uma perícia desenharia de giz no asfalto

O resultado das passeatas de amarelinhas

Colocaram um louco no planalto

E o corpo morto? Seria nosso? Adivinha.

Míssil por ar, sonhos por terra

Terroristas com as armas que tem

Diversas versões, indústria da Guerra,

Será que sobra gente para enterrar alguém

Mas “NÃO DESISTA!” - Urrava meu coração feroz

“PERSISTA NA LUTA!” - era seu conselho

Hoje tento escutar um sussurro da sua voz

Está difícil - ele respira por aparelhos

Será que num último suspiro ele me contará outra verdade

Que as dores desta guerra não pagam as alegrias

Que nossas lutas não deixarão legado para posteridade

Que tudo por que lutamos não passa de utopia

Se for assim, melhor nem escutar suas últimas palavras

E do seu balbuciar imaginar ouvir uma poesia

Que morrer lutando dignifica esta gente brava.

Prefiro acreditar que morrerá na teimosia.

(tem mais em https://daltonlacarvalho.blogspot.com.br :) )