Entre tropeços e avessos
Envelheci feito folha de outono
e com ela me deixei levar
pelo vento, de qualquer tempo.
Às vezes, parada obrigatória,
mudava o enredo de minha história
enroscando-me em empecilhos
a travar meus passos
marcando as fases desbotadas
de ilusão transitória,
persistindo, sem modéstia,
em minha trajetória.
Alguns foram vencidos e outros por vencer,
bloqueios impenetráveis vergando estruturas
fazendo um inverno intensamente gelado
enrijecendo as mãos que acariciam esculturas,
artesãos a espera de um sol a brilhar
enquanto o branco da estação acentuava
os meus cabelos grisalhos.
Entre tropeços e avessos compulsórios,
duras quedas que me levaram ao chão
e emolduraram o meu íntimo de emoção,
percebi detalhes que jamais teria visto,
não houvesse eu caído
e ter cavado a inspiração,
se não houvesse molhado de pranto
a estrada por onde andei
trazendo-me, vez ou outra, a primavera,
deixando a vida mais bela.