PREFIRO
Cansei dos poetas tolos que choram à toa pela mulher que foi embora
Cansei dos poetas que buscam e rebuscam
Cansei dos poetas misteriosos que nem sabem o que falam
Cansei dos poetas que pensam que são poetas
Cansei das palavras
Cansei da fala
Cansei de fazer sala
Cansei dos poetas que se matam
Cansei dos poetas que continuam vivos
Cansei dos poetas que escrevem com canivete
Cansei dos poetas que se dizem mais humanos que os outros
Cansei dos poetas músicos
Cansei dos poetas pintores
Cansei dos poetas poetas
Prefiro os que vivem às custas de si
Erguem paredes mas conhecem as portas
Prefiro os que rasgam a cortina do invisível
e mostram os corações de pássaros mortos de frio
Prefiro o gozo liberto ao lado da mulher que amo
do que um poema com espermas mortos
Prefiro as mãos vazias dos poetas que imaginam
dos que as cheias dos que acumulam papéis...