Nos Desvãos da Noite

Esvoaçam as notas musicais harpejadas pelo vento.

Na cumeeira, felinos copulam grunhindo guturalmente.

Não há vestígios de notívagos projetando sombra nas calçadas,

a noite é um mistério contínuo:

sabe-se lá quantos loucos desapaixonados escoam sob a luz!

Fiapos de crespos algodões encobrem a lua

mantendo, por instantes, as estrelas órfãs.

O cepo onde ancoram meus sonhos,

está carcomido pelo sabre do tempo - balouçam à deriva,

nas águas ondeantes e estrepitosas do mar.

A muralha rente ao cais está borrifada de luar,

mensagens de amor grafitadas pelos poetas anônimos.

Sou um mero viajante da noite, respiro o odor das campânulas anãs

lilases que vicejam no vaso do peitoril da janela,

meus pensamentos tonificam as abas de seus sinos

e o som metálico de címbalos tremula sobre minha cabeça

e se desfaz em pleno espaço,

emitindo centelhas de uma explosão estelar.

O muito de mim parte-se em átomos

e eu me exponho, diminuto, à feracidade noturna.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 31/03/2017
Código do texto: T5957330
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.