Nos Desvãos da Noite
Esvoaçam as notas musicais harpejadas pelo vento.
Na cumeeira, felinos copulam grunhindo guturalmente.
Não há vestígios de notívagos projetando sombra nas calçadas,
a noite é um mistério contínuo:
sabe-se lá quantos loucos desapaixonados escoam sob a luz!
Fiapos de crespos algodões encobrem a lua
mantendo, por instantes, as estrelas órfãs.
O cepo onde ancoram meus sonhos,
está carcomido pelo sabre do tempo - balouçam à deriva,
nas águas ondeantes e estrepitosas do mar.
A muralha rente ao cais está borrifada de luar,
mensagens de amor grafitadas pelos poetas anônimos.
Sou um mero viajante da noite, respiro o odor das campânulas anãs
lilases que vicejam no vaso do peitoril da janela,
meus pensamentos tonificam as abas de seus sinos
e o som metálico de címbalos tremula sobre minha cabeça
e se desfaz em pleno espaço,
emitindo centelhas de uma explosão estelar.
O muito de mim parte-se em átomos
e eu me exponho, diminuto, à feracidade noturna.