HAP DEAD
Ontem vi três garotos mortos e três urubus no fio de alta tensão,
descobri que o futuro não existe quando se está de olhos abertos
olhando o céu se mover e você está sem mover músculo algum,
é como as escamas brilhando o sol amarelo e a carne do peixe
dormindo o sono eterno nas mãos de um anjo de olhos secos,
a polícia observava e perguntava e sonhava em achar os assassinos,
o comércio semiaberto vendia suas bugigangas e nenhum deles
tinha alma de sobra para vender...
. . .
Ontem na porta da escola vi três garotos vendendo drogas
para garotas com olhos vidrados e saias curtas e pensamentos vazios,
riam e colocavam na boca os pequenos círculos e eles levavam
as garotas para lugares onde poucos vão e nenhum volta,
se sentaram no meio-fio e escreviam no chão poesias sangrentas,
as outras meninas riam e comiam seus lanches e riam e comiam,
os velhos sentados nos bancos der madeira espiavam
com olhos de velhice astuta, sempre se pode pegar os restos,
a música dos ônibus e os cochichos dos amortecedores riam...
. . .
Ontem passei diante de uma catedral e escutei um homem rezar
pedindo perdão por ter espancado sua mulher, por ter espancando
seus filhos, por ter matado o cachorro, seus olhos secos não riam,
sua mãos juntas e olhos voltados para um céu de mármore e afresco,
olhei e não vi nenhum anjo descendo com uma espada,
nem escutei a reprimenda de nenhum deus esquecido no céu,
só o homem mordia os lábios e confessava sua fraqueza,
a vida, sem manual, seguia seu curso como um rio poluído,
a carne, sem força para reagir a instintos assassinos,
de joelhos, mal compreendia que o mal é o homem quem faz,
que o bem é o homem quem faz, que a paz é só letargia,
que rir é só alegria, que a morte é só consequência
da falta de experiência das almas dadas sem ciência...