Outono
Pendurei roupas sujas no varal do tempo;
lavei a alma por esquecer
por quanto o relógio girou...
A vida veio em tantas estações,
desfez emoções
de quem já nem lembro,
mas quando, de mim, dei conta
o calendário mudou...
meu olhos já viam
o que, no mundo, ocorria...
a vida corria,
urgia vitalidade...
daí pude perceber
que o tempo ao tempo pertence,
que a vida acontecia,
transmutando suas imagens...
os ventos varriam as folhas do chão...
pintavam novas paisagens,
levavam ilusões, traziam esperanças,
com novas cores, novos sabores,
traziam jovens aromas...
no ar o presságio
da vinda de novos amores
e o coração, de feliz,
cadenciava risonho...
como num leve sonho
em tudo vinha um portento...
e por um, mui breve, momento
lembrei do tempo, o varal,
porém,
as roupas já não existiam...
mas as lembranças do ontem
faziam-me crer nas mudanças;
Enfim,
em tudo há um início e um fim;
o tempo é o senhor de tudo...
foi assim o outono em mim.