CRISE DE IDENTIDADE
CRISE DE IDENTIDADE
BETO MACHADO
A praça era só um cenário.
Moleques desbocados
maltratando a bola,
Rolinhas e pardais dividindo migalhas
Num chão por limpar,
Mas tudo na mais santa paz.
Só que havia, ali, um senão:
Uma beleza jovem
Lutava contra seu Eu,
Mirando os passos e gestos viris
Dos pseudo jogadores.
Como se a quadra tivesse
A forma e a dimensão
Da arena sanguínea
Que é o seu coração
A bela menina projetava-se
Naquela partida.
--- São fracos demais
Pra jogar comigo--- pensava.
---Mas são fortes demais
Suas palavras ofensivas---repensava.
E ela não se arriscava.
Sempre engolia os desejos,
Empurrando a vida,
Como se faz com o tempo.
Desígnio apreendido,
Desígnio seguido.
Como se sonho fosse
Só pra ser sonhado,
Ela vai alimentando
A própria crise de identidade.