Que assim seja.

Entre o são e o não, o vão

Naquele momento em que a voz não é ouvida

Onde os gritos marcham em direção ao vácuo

Quando nada mais importa

Além da vida.

Com a paz que quem abraça traz

Seríamos capazes

- mas somos capatazes.

Se a arte imita a vida,

Por que a poesia transborda

Ao passo que o poeta seca?

Sobre o amor que droga, vício

Procuremos o outro dependente

E que ele seja o herói, a heroína.

Que falemos de tudo,

Mas sintamos o barulho que ecoa no silêncio

E o nada. Nem barulho, nem silêncio.

E que isso seja tudo,

Que, com isso, sejamos tudo:

O ponto triplo da vida

Onde nossa essência coexiste.

Sintamos o momento onde duas almas param de explodir

E gritam por dentro

Comemoram ou lamentam,

Mas gritam.

O momento onde tudo grita:

O Zero Absoluto.

Que é tudo, e por isso é nada.

Apreciemos o que acontece quando todos dormem.

Que as estrelas apenas escutem sorrisos,

Mas, que as as lamúrias que porventura elas capturarem,

Sejam tijolos para fortalezas

- mas fortalezas também desabam.

Que as noites de insônia encham páginas.

Que os que amam possuam fígado forte.

Que nossa existência seja plena,

E os raios que nos atingirem, nos recarreguem.

Que cada nova morte

Seja uma ressurreição.

Que os dentes ou as banguelas escapem indiscretamente.

Que nossos gelos derretam

E nosso calor seja compartilhado.

Quando nosso brilho combinar e chegar às estrelas,

Quando nossa energia se unir e se completar

Ao ponto de nossa força ser completamente nula - ser tudo,

Quando formos um,

Eu não serei a peça que faltava,

Você não será a peça que faltava,

Nossos encaixes não são perfeitos,

Mas fomos feitos contorcionistas.