Suspensão
Suspensão!
Um corpo estático
flutua no abismo.
Só os cabelos é que se lançam como que num redemoinho
movimentados pela estridente bolha do pensamento.
Uma gota inflamada escorre do olhar vidrado
e também não cai.
Flutua ao lado do corpo.
Flutuam seus intestinos, seus demônios
e todas as incuráveis pestes que não saíram nunca no raio X.
Tampouco foi detectado pelo hemograma o inchaço de cada glóbulo acinzentado.
Fragilidade...
Mais um triz mandaria o corpo todo pelos ares.
Torpor...
Os olhos cedem, se rasgam.
Estatelado, o corpo se debate na caoticidade feroz de tudo.
A força do metal tritura os dentes um a um.
Os estilhaços passam criando fendas por cada centímetro da garganta.
Numa lancinante dor
o corpo goteja,
o brilho se dissipa,
a vida arrefece
e se esvai.