Suspensão

Suspensão!

Um corpo estático

flutua no abismo.

Só os cabelos é que se lançam como que num redemoinho

movimentados pela estridente bolha do pensamento.

Uma gota inflamada escorre do olhar vidrado

e também não cai.

Flutua ao lado do corpo.

Flutuam seus intestinos, seus demônios

e todas as incuráveis pestes que não saíram nunca no raio X.

Tampouco foi detectado pelo hemograma o inchaço de cada glóbulo acinzentado.

Fragilidade...

Mais um triz mandaria o corpo todo pelos ares.

Torpor...

Os olhos cedem, se rasgam.

Estatelado, o corpo se debate na caoticidade feroz de tudo.

A força do metal tritura os dentes um a um.

Os estilhaços passam criando fendas por cada centímetro da garganta.

Numa lancinante dor

o corpo goteja,

o brilho se dissipa,

a vida arrefece

e se esvai.

Talita Fernanda Sereia
Enviado por Talita Fernanda Sereia em 16/03/2017
Reeditado em 16/03/2017
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