O existir de uma lagarta
Dona lagarta vive uma vida sem graça.
É bonita por fora, suas cores vibrantes.
Quem vê até pensa, que ela leva uma vida cintilante.
Mas, na verdade, a vida dela não é nada estimulante.
Precisa guardar energia, ela ainda não sabe para quê.
Pensa ela: “Mas que coisa, uma vida inteira só a comer!
Que sentido tem a minha vida? Se eu vivo aqui, nessas folhas, sem nada a fazer. Que sonho, viver uma vida atrevida. Mas não tive direito a escolher".
Dona lagarta entristece. Ela não consegue compreender onde está o valor de viver.
Por ela, nunca tinha saído do ovo. Ficava mesmo por lá.
Dona lagarta anda cansada dos “de novo”. Ela come folhas, hoje.
Come, amanhã, de novo. O dia amanhece, anoitece.
E ela lá, e tudo se repete.
Uma vida vulnerável. Dona lagarta está sempre à mercê da sorte.
Onde tudo pode acontecer. Para ela tão perdida...
Não faz sentido ouvir sobre a vida que vale a pena ser vivida.
E, um dia, de repente, uma coisa surpreendente.
Ela se olha, e está diferente, mas isso não a alegra. Agora, uma fase difícil, monótona. Fase de espera. Agora, ela fica lá, de repouso no casulo.
Ela se pergunta, todos os dias, o que faz ela aqui, nesse mundo escuro.
Nada a faz compreender que sentido tem a existência.
Ela há muito tempo, já está sem paciência.
E um dia chega, e surpresa novamente. Ela sente que precisa sair.
E vai se libertando, lentamente, daquilo que a protege.
E agora, o casulo foi rompido. Aquele mundo que era chato, de repente, foi perdido.
E a borboleta cria asas, e, agora, sabe voar.
Ela é azul-turquesa, jamais se viu tanta beleza.
Livre, com um objetivo importante, ela voa por aí.
Vivendo a tão sonhada vida interessante.
Depois da metamorfose, finalmente, a borboleta entendeu.
Que é preciso ser lagarta para, um dia, ter o que é seu.
E não é só o tempo e a paciência, é preciso persistência.
Pois sem o trabalho duro, não se descobre o valor de nada.
Ela jamais seria borboleta, se tivesse esperado sentada ou desistido da empreitada.
Agora a borboleta aprendeu que o valor da vida não está fora, mas dentro de cada um. E a gente descobre, apesar da demora.
Assim, a gente espera que seja. Mesmo que a vida doa.
A gente torce para que não seja à toa. E que tenha um porquê no fim.
Mas não se esqueça, todo dia, que na vida nunca há garantia.