Estrela (de)Cadente
(a uma doidivanas)
Eis aquela
Que apontavam na rua,
Que perdeu a cabeça,
A vergonha e a compostura.
A quem todos torciam a cara
Por não ver nenhum futuro.
Que partiu em busca de aventura,
Disposta a vencer de qualquer jeito,
Mesmo a custa da alma e do corpo,
Como dizem: Na raça e no peito.
Eis aquela
Que foi procurar outro porto
Onde a ninguém importasse
A vermelhidão do rosto.
Um vento sul, surdo e cego,
Soprou a estrela (de)cadente,
Que num último espasmo, num flash,
Conseguiu cegar essa gente
Que a tudo facilmente esquece.
Ex-amigos, novamente amigos,
Voltam a louvar-lhe beleza e dons.
Não mais defeitos, são perfeitos
Imagens, gestos, ritmos e sons.
Por não ter memória nem pejo
Todos se rendem, se vendem,
Mendigam um cumprimento.
Só eu, que de longe a tudo vejo,
Esquecer não posso nem tento.