Mil anos...
Compreendo essas casas que dormem
mudas sob o sol do meio dia;
Compreendo esse homem meio velho
que cochila no banco da praça;
Compreendo esse rosto cansado na
mulher que vai apressada pela rua...
Compreendo e nem queria compreender!
Compreendo esta janela aberta deixando
que o sol penetre a sala e beije a mesa;
compreendo essa mudez na casa onde
antes havia alaridos mil e mais alegria;
compreendo essas cortinas que simulam viver
ainda no tempo que eu não compreendia nada...
Compreendo e nem queria compreender!
Compreendo como das bocas das benzedeiras
saiam rezas que secavam arruda no calor da fé;
Compreendo essa estrada que vizinha esta
casa velha que vive a esperar alguém passar;
Compreendo essa teimosa flor que floresce
sem saber se alguém virá ver a sua floração...
Compreendo e nem queria compreender!
Compreendo essa inutilidade do tempo,
compreendo esse lamento dorido do povo,
compreendo essa terra seca pedindo água,
compreendo esses homens, esses pássaros,
compreendo esse barco, esse olhar disperso,
compreendo esse perfume das magnólias que
não existem; esses voos rasantes dos pássaros...
Compreendo porque observo tudo há mil anos!