NA PORTA DA SUA CASA

Na porta da sua casa passa um rio silencioso,

feito de miúdos versos, quase invisíveis, que te chamam,

desce e sabe que vai rumo ao último mar,

lança ondas que batem em tua janela

querendo te acordar,

a dança dos peixes espera por teus olhos,

suas íris cristalinas deixam ver o fundo,

quer levar seus problemas embora,

quer que navegue até encontrar a aurora

dos novos dias que virão,

o barco vem manso e chega à margem

à espera do teu coração...

Vem, chegue ao pórtico de tuas perguntas,

espreguice, o dia é dispendioso à noite que se foi,

as voltas que os pensamentos dão

um dia, de manso, te levarão

a questionar as fraturas do nosso tempo,

todos os juntos, os mansos, os ferozes,

os válidos, os inválidos,

eu, você,

cacos do mosaico divino a espelharmos o inefável,

ouça o silêncio do rio à tua porta,

acorde os nervos da tua floresta,

acorde as flores de tua aorta,

viveremos só o que presta,

o que há de feliz

de um modo inegável...