BEM-VINDO, FUTURO...
Aí eu avancei sobre o futuro com meus dentes do presente
e a saliva do passado, mordi o seu pescoço, cravei os dentes,
procurei vestígios de um mundo anunciado,
lá estavam os virtuais sentimentos, os dados
que eu procurava para me afastar do já vivido,
sem totens, igrejas, templos, só o olho de vidro
do Grande Irmão a espiar cada centímetro de pecado...
Abri a porta da sala e lá estava o mundo de escombros,
Hércules, combalido, já não levava a Terra sobre os ombros,
as hélices do aviões, partidas, anunciavam a guerra já finda,
a música dos motores ronronava, metálica, surda, ainda...
Vesti a jaqueta e saí, nenhum rumo aparente, só o virtual,
os cães riam as seus pares, homens anunciavam o estado canibal,
com o controle remoto apaguei paisagens e criei outras humanas,
do alto da torre o homem gritava que a alma estava insana,
e eu, com o que restava de mim, ao futuro dei boas-vindas...