Redenção
Enfeite o seu pequeno sepulcro
com as flores que ninguém quis comprar
as preces são poucas, as velas também
uma língua que não consigo entender
não era você o último profeta?
o melhor perdedor do leste
há uma lágrima em seu rosto
que insiste em não escorrer
apenas esqueça (não era importante)
mas eu quero tentar
ao menos mais uma vez
lambuzar o meu pássaro cansado
com a pálida luz de quem não está nem aí
fábricas cuspindo corações
em cada canto deste mundo quadrado
você morre um pouquinho a cada novo descompasso
não se lembra de quando ainda sentia o amor?
nem faz tanto tempo assim
essas coisas ficam na história
torneiras que não deixam de pingar
um lugar cheirando a miséria
a milhas e milhas do paraíso
mas eu irei tentar
ao menos mais um vez
florescer o meu jardim destruído
para ser novamente pisado por quem não está nem aí
um pequeno quadro riscado
com palavras agora perdidas
é um dia vazio para um homem vazio
o que eu posso fazer? que merda eu posso fazer?
para destruir os demônios e as lembranças borradas
não, eu não quero mais flutuar num passado recente
o que estou fazendo com a porra da minha vida?
todo mundo que se vai leva um pedaço embora
eu não sou feito de ferro fundido (sou apenas fodido)
parece não fazer diferença
não para mim
quem sabe para você?