O PASSEIO DA POESIA
A poesia, cansada de sua choupana,
achou lindo, mais que bacana,
sair e espairecer nos cantos da cidade
onde homens bem à vontade
vivem de calos e de cachaça,
cheios de ardis e vãs trapaças,
e ali se deu, sem nem pensar,
deu de viver, deu de cantar,
não lhe sobrou nem a carcaça...
E ali fizeram o opíparo banquete,
analfabetos e solertes escreventes,
gente igual e mui diferente,
paredes foram cobertas de letras,
outros enchiam suas gordas bochechas,
e nunca se viu tantos poemas e tantas odes,
hai-kai's supremos entre buchadas de bode,
e nunca mais a mesma foi a cidade ensandecida,
cheia de vida e luz e palavras agradecidas,
nunca mais se viu bocas sem sílabas
e nem línguas sem um bom uso,
rimas nasceram e se espalharam,
tais como porca e parafuso...
Mesmo que digam, os mais letrados,
que a poesia é santa, da biblioteca, no altar,
diga o povo que a comeu como doce e salgado,
que é um acepipe, coxa de lagosta, gostoso manjar...