TODO FELIZ
Ah como é bom vadiar,
esquecer as horas no balcão da lanchonete,
desregular a caixa de sentimentos,
gostar do que se passa em volta,
gostar aqui fora do que vai dentro,
esquecer Trump e suas torres,
se desfazer de más lembranças,
o Exército Islâmico e suas crianças,
dar um tempo nos salgadinhos e nos doces,
ler um bom poema de Bandeira,
umas delícias de Cecília Meireles,
flutuar sobre jangadas fuleiras,
a gente sabe que a música vai ter fim,
que hão de colher todas as rosas do nosso jardim,
aquele abraço escondido deixar se soltar,
a vida, amigo, é mais onda do que mar,
simplesmente rir com os amigos,
perdoar os crimes e os castigos,
vadiar é não esquecer de tecer
a teia de desejos transformados,
vadiar é ter tempo para se perder
e se encontrar todo revigorado,
descer ao fundo do poço,
beber a água de si mesmo,
se olhar no espelho do tempo,
todo feliz, todo moço...