TEMPO E ETERNIDADE

Pergunto ao pássaro: onde vais?

Diz-me ele: apenas voo, a ver e ouvir coisas,

o canto do rio, o murmúrio da floresta,

o estampido na cidade, o riso dos amantes,

não tenho mapa e nem destino certo,

sou, do acaso, o caso mais concreto,

nasci para voar e não para perguntar...

Pergunto ao homem: onde vais?

Diz-me ele: procuro um lugar onde possa viver,

com pássaros a cantar, um rio no fundo de casa,

o cheiro de mato no nariz, longe das guerras,

a ver o amor girar a lanterna do achar e perder,

não tenho mapa e nem destino certo,

sou por acaso, o caso mais discreto,

nasci para procurar e não para achar...

Pergunto ao tempo: onde vais?

Diz-me ele: vou nas asas do pássaro,

a gastá-las e com ele viver as coisas da vida,

sobre montanhas e vales ver as pedras virarem pó,

vou com os homens para lugares onde nunca foram,

só eu, o tempo, posso entrar e sair da casa da eternidade,

e o levo comigo, e gasto sua força lhe mostrando coisas novas,

gasto o seu amor quando segura nos braços o bebê,

levo-o à beira do precipício onde um dia,

escrita em versos e tempestade,

lerá sua história feita de poesia...