O poema da vida
Não é essa nossa vida,
senão um doido poema,
uma real sinfonia,
cheio de imperfeitas rimas,
que de Deus, ironicamente,
tanto nos aproxima?
Não é ela cheia de palavras,
umas feias, outras lindas,
inundando nossa mente,
brigando umas com outras,
para enfim refazer,
a essência do nosso ser?
Não estão elas rimando,
em perfeita distonia?
Não é cheia de cruéis versos,
construindo em harmonia,
do destino o reverso,
com intensa ironia?
Não surpreende, às vezes,
nossa alma com alegria,
como uma festa divina,
cheia de santa euforia?
Não é um grande romance,
onde quem se espera,
acaba não sendo amado,
e se acaba amando
quem amar não se espera?
Não são cheios esses versos,
de sangue e de lágrimas,
de água e de bom vinho,
de insuperável sabor?
Não é um grande enredo,
cheio de tantas surpresas,
tanto medo, tanto temor,
onde o esperado não vem,
e o repentino é a lei?
No hora do último verso,
não é que queremos todos,
impotentes, padecidos,
nossa mão suspender,
para o final deter?
Mas como podemos nós,
tal evento evitar?
Nós escrevemos as linhas,
mas a musa é divina,
e é inútil com ela,
argumentar, reclamar.
No final o que queremos,
é uma rima perfeita,
uma história toda feita,
de amor, de valor sem fim,
um poema que, enfim,
tenha valido a pena,
apesar do padecer,
viver, sofrer, escrever!