VASTO E IMENSO CORAÇÃO

Pudesse eu viver de poesia

O pão da palavra poria

Sobre a mesa de cimento - fria

Da fome de quem a escreveria...

De naco em naco me alimentar

Como se alimenta da onda o mar

Ou a íris que recebe o outro olhar

Para ver o amor desnudo chegar...

Pudesse por sobre a mesa o corpo do poema

O partiria como num teatro em mais de mil cenas

E ao interpretá-lo com as faces doridas ou serenas

Saberia o alcance - da augusta platéia em palmas – apenas...

A cada dia mais esfomeado do poema em alegria ou solidão

Plantaria no quintal um jardim de palavras semeadas pelo chão

E na noite escura dos homens abandonados como cacos no porão

Tornaria elas estrelas de renda a ornarem

este vasto e imenso coração...