AS ARMAS DO AMOR

Para quê esta roupa

Se a minha pele diz tudo sobre mim

Essas marcas de cerca e arame farpado

Essas ruas que olhos andaram com fome e volúpia

Essas tatuagens naturais que a natureza fez e pensou

Esse meu coração que se mostra como um palhaço num circo

Onde todos assistem o espetáculo do amor e o drama da dor...

Quando ando pela cidade a olhar

Os corpos que passam escondidos

Suas vestes são como vidros embaçados

Que derretem a neve do medo...

Nada é mais visível do que o que se mostra sem pudor ou furor

O mundo com suas pernas a caminhar depressa olhando para trás

Pessoas tristes e pessoas felizes são as armas do amor...

Fecho os olhos e continuo vendo a luz que nunca cessa

As cidades e suas portas e os homens e as mulheres em suas camas

O riso dos cães e as piadas sobre veados e aleijados e autistas

Os artistas correndo em busca do ouro do público – o aplauso

Os figurinistas cobrindo e desvestindo o macio sobre os ossos

O sangue escorrendo na calha do televisor e manchando o sofá

A mãe sendo espancada – o pai bêbado e a virgem deflorada

A vida segue seu curso como um rio que nunca cessa

Eu – nu – sob o chuveiro no banheiro

Sinto a nudez de todas as coisas

Que me olham enquanto as observo...