LIVRE POESIA

Um dia saí a mercadear,

contrabandeei vento, vendi ar,

confinei tempestades a vidros vazios,

roubei dos poetas mortos

seus ossos retos e tortos,

escrevi cem melodias e cantei todas,

nos funerais, nos divórcios, nas bodas,

expus nos salões da moda cética

a fina astúcia da raposa védica,

apartei rusgas por ouro falso,

fugi de salteadores juvenis,

estive em banquetes lautos,

fui sempre o que bem quis,

um dia cansei de vender e trocar,

deis os meus bens,

tudo em notas de cem,

espalhei versos sobre lagos gelados,

acalentei corações cansados,

hoje, sentado na varanda da luminosidade celeste,

espio a livre poesia que se espalha como benéfica peste...