Céu e Inferno
Estamos aqui
nesta viagem sem roteiro
nesta viagem cheia de rotas e voltas...
Buscando viver como podemos
e sofrendo por não viver como queremos,
então, apenas seguimos presos às horas,
pois é isso que nos resta:
o aqui e o agora.
Buscamos aquele sentimento de vida...
Sabe? Aquele?! Aquele...
Aquele em que gostaríamos de viver lá para sempre!
E mesmo que sempre distinto o momento
o sentimento de vida vive intacto
sempre com um algo peculiar
e comum em sua raiz...
É o indescritível,
a ausência de nome para aquilo,
que faz desse sentimento
a essência mais magnífica e inconsciente que temos:
vivemos apenas quando esquecemos o que é isso.
E quando olhamos para o mundo
quando percebemos a realidade...
O mundo pesa em nossas costas
– como nós pesamos o mundo.
Irreparável a morte precoce de ambos...
Existimos no aqui e no agora
e quando já é passada a hora
existimos em outro instante...
Construímos a nossa essência a cada experiência que temos.
Somos outro o tempo inteiro
e ao mesmo tempo somos o mesmo de antes...
Existimos e nos construímos nesta imensa Torre de Babel.
Decadência perante aos meus olhos...
Minha consciência é a descarga do mundo.
Todos os dejetos que vejo – e não quero –
reconheço – e sinto – todo dia,
os odores que putrificam esta torre
no fim de tudo é também o que nos edifica.
Não há saída, nem nunca houve.
Antes soubesse a ciência
o caminho para o paraíso.
Antes soubesse o homem
o que ele nunca soube.
E ao lado disso há o sentimento de vida:
aquele insaciável...
Viajamos entre o céu e o inferno ininterruptas vezes
até que sejamos interrompidos.
Não percamos mais tempo de vida,
mais sentimento de vida,
pois só temos o aqui e o agora.
O céu e o inferno é bem aqui onde a gente vive.