Medo
Há algo de comum no medo...
nos dias a tardar escuros,
nas manhãs onde a vida começa
e continua da mesma forma,
como os gritos do ventilador
e os lamentos do relógio.
Há algo de intenso no medo...
as memórias perdidas
de momentos que não encontrei,
o braço que lateja em uma madrugada
a solidão amargurada no peito,
doendo e contaminando todo o corpo.
Há algo de feio no medo...
a ausência continua de qualquer dia
o café requentado da manhã passada
o violão jogado no quarto,
coberto por poeira e teias de aranha...
sou mais que tudo um sofredor.
Há algo de distante no medo...
que destoa de qualquer palavra sã
e me impede de abrir aquele ebook
e retomar as viagens de outrora.
existe uma dor estranhamente comum,
que nos mata e apenas chora...
o mundo é uma chama em decomposição.
e o medo se destaca na solidão de muitos.
Há tantos significados no medo...
não cabe o meu coração ferido e partido
não cabe minha existência estranha e imperfeita
não cabe a incapacidade de voltar a sonhar
O medo arde, o medo dói,
mas no medo há só o medo...
a minha angústia é muito maior.