OS DENTES DO CORAÇÃO
Quem vive de metáforas é a poesia;
eu vivo de arroz, feijão, cebola, alho, melancia,
uma pitada de manjericão, vivo de alegrias, (ou não),
porque rir me faz mostrar os dentes do coração...
Quem vive de versos são os secretos fazedores,
que põem palavras a andarem nos corredores,
uma a uma, em linhas tortas como num labirinto,
a porem sentidos em humanos corações, pressinto...
Quem vive de se alhear do imenso mar humano lírico
são os poedores de ovos de mais de cinco sentidos,
voam suas palavras como águias em infinitas miragens,
nautas empedernidos em suas estafantes e longas viagens...
Eu vivo do prejuízo que o juízo banca
quando minhas sensações se trançam
e eu caio, levemente arcado,
sob o peso das minhas duvidas,
dos meus pecados,
da saliva (deles) úmida,
encharcado...
Quem vive de ir sabe que tem de voltar
como faz a onda depois de se despedir do mar;
que vive de trocar de pele sabe trocar de alma,
toda poesia é a fúria que grita chamando a calma...