UM SUJEITO QUALQUER

Você move a mão e gira a chave,

e entra e se apresenta para as coisas todas,

o pão sobre a mesa, ao lado a louça,

o pássaro enfiado na gaiola,

o voo que na solidão se enrola,

abre a torneira e a água do mundo se deita em seu copo,

e entra em seu corpo e mais tarde retorna,

você conduz seus sentidos para o aparelho com vidro

e o liga, e se entrega e se nega a sair do lugar,

barco afundado na retina do único e sempre mesmo mar...

Da borda da pia a formiga mira o chão

e salta com, na boca, o coração,

você espia e comenta",...que burrice...",

seus pés formigam e sua ex-mulher disse,

"...levante-se daí, parasita, antes que a vida escape

de sue controle, antes que seu coração o sangue engarrafe,

e fuja de você essa vida tola..."

As coisas imponderáveis,

a elipse da Terra, a conjunção planetária,

o estatuto dos gnomos da constelação mais próxima,

nada disso interessa a um sujeito como você,

feito para por e tirar as pedras do lugar,

para ocupar a vice-presidência,

nascer e morrer,

dormir sem sonhar...