A OUTRA MÁQUINA DO OUTRO MUNDO
Chego ao castelo, perto da torre,
lá no alto escuto o rei a reinar sua festa,
a cuspir pelos pórticos palavras que não prestam,
o tilintar de taças e o riso provocado pelo champanhe,
o grito de virgens que se perderam na noite das espadas,
desce pela calha da loucura um filete de sangue...
Quanto mais grito mais gasto minhas vãs palavras,
menos me ouvem, mais alto chacoalham
suas pulseiras, mais brincam sua brincadeiras,
e eu, aqui embaixo, aceno minhas mãos,
menos me veem, mais riem sua dissolução,
quanto mais me penso perto do poder
mais sinto meu corpo encolher,
cansado, absolutamente sem esperança,
abrem o portão do castelo
e de lá sai uma criança,
pálida, branca,
rindo vem em minha direção,
me diz, com um riso de escárnio,
papai, o rei, mandou dizer a ti que,
se queres entrar na festa,
entregue já, sem pudor,
o seu coração...
Me volto e sigo pela estrada que leva a nada,
sigo, quase desfalecido, de cabeça abaixada,
miro o horizonte e me pergunto sobre o sentido da vida
enquanto lentamente me esforço diante de tão íngreme subida...