VIVA, POETA!

Canta, poeta, sua ilusão se espalha por sobre o continente;

onde houver ouvidos haverá quem te ouça, haverá gente

a lavrar a terra e a escrever nela palavras sementeiras,

a enxada a escavar o ar para a poesia da vida inteira...

Anda, poeta, põe-te a andar sobre estradas sem passaportes,

caminhe sobre o azar de saber que tens vivido com muita sorte,

alguém nos confins do mundo moverá os lábios numa noite fria

a esquentar a alma com versos repletos de labaredas de tua poesia...

Faça, poeta, como os que põem o suor a encharcar o campo,

cubra com teus versos estes homens e mulheres como um manto,

faça com que desçam deuses de um Olimpo de portões fechados,

consagre à vida as odes do teu coração com amor tão ocupado...

Viva, poeta, para que os que morrem não percam o sentido,

dê-lhes o que te sobra de paz e, mais do que isso, seja o amigo

que lerá sobre as tumbas as palavras de conforto e precisão,

reúna todos e convide-os a morar em teu próprio coração...

Assim, poeta, antes que sobre mim escreva escrevo sobre ti,

pois sei que andas pelo mundo de caneta em punho e decidido,

que viva mais mil anos em poucos como esses tantos que vivi,

faça a arte de transformar água em vinho, inimigos em amigos

e transcendental diga, Abre-te Sézamo, amor, em todos, surgi!