NO FUNDO FALSO DO PALHAÇO
Do fundo falso da alma
salto para o picadeiro;
já não sei se sou palhaço,
tratador, se malabarismos faço,
trapezista ou bilheteiro...
Ao público faço mesuras,
tomo tombos para o riso vir,
não sei se está nas escrituras,
o homem tem que fazer o homem rir...
As luzes se acendem, mágicas,
a palha fofa amortece saltos e piruetas;
quem disse que a vida é trágica,
feita de sombras e silhuetas?
Do mais fundo falso da alma viva
apareço e mostro a face da humanidade;
os olhos rompem a comer a comida,
os movimentos de mentira e de verdade...
Se palhaços somos por que tanta tristeza,
olhos cheios d'água e lábios trêmulos?
Será que não vemos ao redor a beleza
do que um dia fomos e ainda seremos?
Reparo na criança que ri e balança os braços,
chama a atenção do pai e da mãe, seja lá o que for
que sinta traça no céu do circo traços de compasso:
será que a felicidade genuína é, então, puro amor?